Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Mina du Veloso reconta a história do negro na extração de ouro em MG

Escravos são apontados como detentores do conhecimento e técnicas.
Mina fica na periferia de Ouro Preto, na Região Central de MG.


Mina du Veloso, em Ouro Preto, Minas Gerais (Foto: Michele Marie / G1)Mina du Veloso, em Ouro Preto, Minas Gerais (Foto: Michele Marie / G1)

Quando se pensa em escravos na mineração, a ideia principal é a de trabalhos pesados, em locais escuros e com pouca ventilação. Mas em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, um engenheiro civil busca mudar o ponto de vista dessa história. Eduardo Ferreira foi criado no bairro São Cristóvão e decidiu recuperar a Mina du Veloso, locazalida na região, para recontar o trabalho de extração de ouro feito no século XVIII.

Estima-se que a mina exista há 300 anos, segundo Ferreira. Ela tem 500 metros de extensão, mas somente parte dela, 300 metros, pode ser visitada. Neste perímetro, é possível ver salões com poços d’água e diversas áreas de garimpo, além de pequenas valas por onde escorriam filetes de água, usada na mineração.
Segundo o pesquisador, os negros trouxeram da África o conhecimento de engenharia para fazer o trabalho aqui no Brasil “porque o português não sabia mineirar”. Entretando, a mineração e o comércio de ouro já existia no continente africano antes do Brasil ser dominado pelos portugueses, disse Ferreira.
“A gente foi aprofundando essa história de quem são os mineradores que vieram pra cá, principalmente os africanos”, conta, explicando que, após o primeiro pico de mineração no Brasil – que era de aluvião, feita no rio –, foi necessário usar uma mão de obra especializada para a mineração subterrânea, nas minas.
O engenheiro, envolvido com estudos sobre o período da mineração desde 2005, diz que Ouro Preto é o embrião da mineração brasileira. "Todas as técnicas que foram usadas aqui, hoje são industrializadas", fala. “É um patrimônio da humanidade pela história que carrega”.
Salões d´água na Mina du Veloso, em Ouro Preto (Foto: Michele Marie / G1)Salões d´água na Mina du Veloso, em Ouro Preto
(Foto: Michele Marie / G1)
A historiadora Ednéia dos Santos conta que o bairro São Cristóvão, também conhecido como Veloso, é considerado um grande sítio de mineração do ouro do século XVIII. O "apelido" é dado por causa do último grande dono da região, José Veloso do Carmo, proprietário de 1761 até 1819. Ele chegou a ter mais de 220 escravos na região.
Após o fim do período escravocrata em Ouro Preto, a área foi aos poucos urbanizada. Os mundéus – lugar onde a lama era dispensada para garimpo de ouro –, aquedutos e as galerias das minas ficaram debaixo dos imóveis, ou entre eles. “Na cidade, deve ter por volta de 400 galarias. Só que a maioria está abandonada”, diz Eduardo.
Segundo o empreendedor, a Mina du Veloso foi construído com recursos próprios, sem incentivo público. Atualmente, ele busca parcerias para pesquisar o substrato geológico como lugar de suporte das estruturas urbanas. Ele acredita que, após tantos anos do período escravocrata, muitas mudanças ocorreram na estrutura sedimentar das galerias de mineração, e é necessário estudo para avaliar até mesmo riscos de desabamento.
Entrada da Mina du Veloso, em Ouro Preto, vista de dentro (Foto: Michele Marie / G1)Entrada da Mina du Veloso, em Ouro Preto, vista de dentro (Foto: Michele Marie / G1)
Processo de reabertura da mina
O engenheiro civil Eduardo Ferreira faz pós-graduação em geotecnia (ligação entre a geologia e a engenharia civil) e comprou a casa construída em cima da mina em 2009. A intenção era recuperar o espaço e abrir para visitação.
Eduardo Ferreira, engenheiro civil, mostra instrumento usado no garimpo de ouro (Foto: Michele Marie / G1)Eduardo Ferreira, engenheiro, mostra instrumento
usado no garimpo de ouro (Foto: Michele Marie/G1)
Foram dois anos na organização e limpeza da parte interna, recuperando as galerias usadas na mineração. Mais um ano para construir o prédio que marca a entrada do atual ponto turístico. As técnicas usadas no edifício também remontam ao século XVIII, para ajudar nesta recuperação de identidade.
A infância de Ferreira e muitos outros funcionários da casa foi vivida no Veloso. O engenheiro conta que cresceu brincando entre as estruturas. “Os pais não gostavam que a gente brincasse lá por causa do risco, e muito por questões espirituais. Falavam que tinha espírito que apanhava lá dentro, sofrimento lá, que o trabalho foi muito duro”, conta.
A historiadora Ednéia dos Santos relembra como morar no bairro muitas vezes foi sinônimo de vergonha. “Durante muito tempo, quem cresceu no bairro dizia que morava no São Cristóvão porque tinha vergonha de falar que morava no Veloso. Era um lugar qualquer, de gente qualquer, longe do centro”, pontua.

Eduardo critica o foco do turismo somente no “barroco lá do centro histórico formal”. A historiadora concorda e acrescenta que, quando a cidade pensou o processo de proteção, não foram pensados modos de preservação para esses sítios arqueológicos que contam a história de mineração de ouro no século XVIII. Por isso, Ednéia classifica o trabalho feito hoje na Mina du Veloso como “uma batalha de recuperação de identidade e autoestima”.

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